terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Arequipa - 1

      Chari tem apenas cinco anos de idade. Vive com a família no vale do Cañón del Colca, num resort turístico ironicamente apelidado de Oásis. Chari e sua família não são privilegiados, tampouco milionários que podem se dar ao luxo de viver em um complexo turístico de tamanha beleza. Chari é quéchua, e sua família trabalha no resort, servindo aos visitantes, transformando seu esforço no prazer alheio. 
      É provável que Chari siga o mesmo destino de suas primas, e torne-se guia, ou funcionária do Oásis. Tem cinco anos, mas ainda não frequenta a escola; o isolamento é enorme, e andar a esmo pelos desfiladeiros do Cañón del Colca não é tarefa fácil. Apesar disso, Chari não parece se importar com o futuro (assim como qualquer criança de cinco anos de idade). Pede-me que a gire no ar, segurando-a pelos bracinhos, ou que brinque de arremessa-la para cima. Canso-me após cinco ou seis sessões, mas ela insiste. Segura meus dedos com suas mãozinhas, simulando um cadeado, e larga seu corpo no chão, molenga.
      Quando finalmente a convenço de que estou muito cansado para continuar, Chari me entrega uma caneta e uma folha rasgada de caderno. Pede-me: “escreva um bilhete para Maribel”. Maribel, explica-me, é sua prima e guia turística do Cañón. Pergunto-a: o que quer que eu escreva? Sussurrando, Chari me diz: “peça que me traga um osso, um osso animal”. Diante de tal singelo pedido, sorrio. Arrancaria um dedo meu para que este desejo fosse realizado.

Um comentário:

  1. Já tinha comentado, mas deixo aqui minha admiração por essa em especial.
    Principalmente depois de ver a fotinho dela =)

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