terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Arequipa - 2

      Chama-se Roy. “Esta é a minha segunda casa”, diz ele, e, como bom anfitrião, guia seus visitantes pelos corredores estreitos e rochosos do El Misti, “O Senhor”, vulcão símbolo de Arequipa, nevado e triangular em seu cume de 5.823 metros de altitude. Na base do vulcão, a duas horas de escalada e onde queda o acampamento, Roy fita o horizonte nebuloso enquanto conversa com um colega, guia de outra equipe. “Existem vidas piores que a nossa”, sussurra. Complementa: “todos existimos, mas nem todos vivemos”. Perante a réplica do outro guia, diz: “Vê esta garrafa de água? Ela só existe”. Chuta-a para longe.
      Roy promete nos acordar à meia-noite, para que iniciemos a segunda (e mais difícil) parte da escalada. Já é quase noite; o frio repele a todos para suas barracas. Mas Roy permanece a mirar o horizonte. Arequipa, enorme, com seus 1.5 milhões de habitantes, lentamente surge em contraste ao céu noturno escuro. Roy observa, melancólico, com os braços cruzados em suas costas, enquanto seu rádio toca uma salsa qualquer, a paisagem urbana. Na solidão absoluta, no silêncio maciço da montanha, Roy deve perguntar a si mesmo: “E estas pessoas? Vivem, ou apenas existem?”.

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